Ferroviários em luta pelo fim de direitos

“Mais um dia de resistência e de luto dos ferroviários contra a brutal ofensiva do governo”

Os trabalhadores e reformados ferroviários ocuparam na tarde de quinta-feira, dia 14 de Fevereiro, as linhas de comboio da Estação Ferroviária do Barreiro, à semelhança do que aconteceu noutros pontos do país. De forma simbólica – durante cerca de 5 minutos –, a paralisação da circulação de comboios na Linha do Sado procurou marcar a jornada de luta “sob a égide do luto e da resistência” contra as concessões. 


Trabalhadores e reformados da CP bloqueiam linha do Sado  

O protesto tinha, na sua origem, o anúncio do fim de benesses históricas, a que sempre tiveram direito, nomeadamente o transporte gratuito nos comboios da CP, que abrangiam os trabalhadores, os reformados e os seus familiares.
“Compreende-se, naturalmente, que um direito adquirido há mais de 100 anos, e que agora lhes é retirado, cause consternação e justifique um protesto. Todos nós somos sensíveis à perda dos nossos direitos adquiridos, ainda que muitas vezes não tenhamos um pensamento solidário quando esses direitos são retirados aos nossos concidadãos”, dizia uma passageira retida num comboio. “Mas eu paguei passe e, infelizmente, dia sim dia não, sou prejudicada por greves e mais greves e perante isso não vejo os trabalhadores da CP preocupados”, dizia a mesma passageira.
O autocolante de “luto ferroviário” junto ao peito identificava todos os que pertenciam “à grande família” de ferroviários que se uniu na Estação do Barreiro contra a “destruição dos direitos conquistados através da luta e de sacrifícios de gerações e gerações de Ferroviários”. “Este dia 14 de Fevereiro será mais um dia de resistência e de luto dos ferroviários contra a brutal ofensiva que o governo está a desferir contra trabalhadores do ativo e reformados”, admitiram as organizações de trabalhadores.
“O nosso luto serve para mostrarmos ao país, com a maior projeção possível, o estado dramático para onde o governo da direita e a sua solícita administração estão a atirar a Família Ferroviária desta empresa centenária”, acrescentaram os organizações do protesto.

Criticas à privatização
Em força esteve, de acordo com estes trabalhadores, uma luta “contra as atuais medidas de redução e congelamento dos salários e pensões desde 2010, a redução do pagamento do valor do trabalho extraordinário, trabalho em dia de descanso semanal e dia feriado, o congelamento das progressões profissionais”, o que “no total significa já uma redução salarial equivalente no mínimo a três salários mensais num ano, violando assim as expectativas dos trabalhadores e os Acordos de Empresa livremente assinados entre empresas e estruturas sindicais”, justificaram.
Unidas pelo mesmo fim, as organizações de trabalhadores, sindicatos e comissões de trabalhadores presentes criticaram, assim, “um quadro de preparação das empresas do sector ferroviário para processos de privatização”. “O governo quer destruir todos os direitos contratuais, em particular o direito ao transporte ferroviário de trabalhadores e familiares, existente há mais de 100 anos e que se insere nas diversas componentes de remuneração do trabalho, fruto de processos negociais decorrentes do direito constitucional à negociação coletiva nas empresas”, dizem .
José Encarnação, representante da Subcomissão de Trabalhadores da Linha do Sado, frisou a importância de se impedir o governo de “destruir serviços públicos e transportes”. “Temos que combater o encerramento dos serviços e o fim das linhas; resistência é a palavra-chave”, justificou numa luta que admitiu existir também pelos utentes.
Rodrigo Tavares, da Comissão Central de Reformados Ferroviários, recordou o Luto das Braçadeiras Pretas de 1969, e contestou o facto de “quererem roubar as concessões conquistadas pela mão dos ferroviários há mais de cem anos”. “Este governo é um perigo público para o país; é preciso parar o saque aos trabalhadores e aos reformados. Temos de derrotar este governo e construir uma política de esquerda”.
Rui Martins, do Sindicato dos Maquinistas, partilhou a opinião e considerou que “nem Salazar foi tão longe”. “Não vamos baixar os braços e vamos fazer tudo, sindical e judicialmente. Pelo que vejo a família ferroviária é bastante grande, por isso vamos unir-nos e combater estas medidas”, assumiu o sindicalista.

Agência de Notícias 

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