Candidatura a Património Mundial já foi formalizada


Candidatura entregue hoje em Paris. Unesco decide até final do ano 


A valorização do património natural e cultural da Arrábida é o principal objectivo da candidatura daquele território a Património Misto da Humanidade, que foi entregue no Comité Internacional da UNESCO, em Paris (França), esta sexta-feira. “Se tudo correr bem, poderá haver uma decisão definitiva no final de 2013”, disse Augusto Pólvora, presidente da Câmara de Sesimbra. O presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal, Alfredo Monteiro, define-a como uma candidatura de Portugal.

Arrábida pode ser património da humanidade ainda este ano 


A candidatura da Arrábida a Património Mundial, uma "candidatura de Portugal", foi entregue hoje de manhã no Comité Internacional da UNESCO em Paris (França), anunciou o presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS). 
"A partir de agora já não é uma candidatura da região, mas uma candidatura de Portugal", disse Alfredo Monteiro, que salientou o trabalho desenvolvido ao longo de uma década pelo poder local, com a colaboração de alguns cientistas e de diversos estabelecimentos de ensino superior.
Numa conferência de imprensa realizada na Quinta de São Paulo, concelho de Palmela, em que também participaram os presidentes das Câmaras de Setúbal, Maria das Dores Meira, de Palmela, Ana Teresa Vicente, e de Sesimbra, Augusto Pólvora, o presidente da AMRS salientou também o empenho do grupo interministerial, que integra o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Ministério do Ambiente e a Secretaria de Estado da Cultura.
Concluída “esta primeira grande etapa, esta primeira grande vitória”, Alfredo Monteiro adiantou que “o trabalho ainda não acabou”, uma vez que as equipas da Unesco vão agora dar início à análise do processo e aferir a validade da argumentação que fundamenta os seis critérios de avaliação a que a Arrábida se está a candidatar para ser considerada Património da Humanidade.
Na Unesco, numa primeira fase, a candidatura poderá ser devolvida, para que se alterem requisitos que aquele organismo considere necessário, ou mesmo recusada, desfechos que, mesmo assim, se apresentam como improváveis para os promotores da ideia.

Unesco pode decidir até final do ano
Diversidade de fauna e flora é uma das riquezas da Serra da Arrábida 

Para o presidente da Câmara de Sesimbra, Augusto Pólvora, apesar de ser importante “ter consciência de todos os cenários”, a candidatura já passou na rigorosa avaliação feita pelo Conselho Interministerial português, constituído pelos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e pela Secretaria de Estado da Cultura.
Após a análise dos requisitos a fazer pela Unesco, segue-se um período de peritagem, que inclui visitas de equipas daquele organismo à Arrábida. “Se tudo correr bem, poderá haver uma decisão definitiva no final de 2013”, acrescentou Augusto Pólvora.
O otimismo que envolve o êxito da candidatura não é beliscado, inclusivamente, pela localização das instalações de uma cimenteira no Parque Natural da Arrábida.
A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, sublinhou que a cimenteira da Secil representa “muitos postos de trabalho e está há muitos anos no Parque Natural. Porém, esta candidatura poderá fazer o Governo repensar a política de licenciamento daquele espaço”.
Para Maria das Dores Meira, a “candidatura representa uma oportunidade para que aquela indústria, que é necessária, seja reconvertida ou até deslocalizada. Têm muito tempo para se preparar, pois as licenças são de vinte anos”.
Alfredo Monteiro considera igualmente que “o valor do bem Arrábida e as suas qualidades únicas no mundo são suficientes” para que a presença da cimenteira não seja um fator eliminatório da candidatura.
O facto de a proposta entregue na Unesco se destinar à categoria de Património Misto significa que a cordilheira sustenta importantes valores naturais e culturais.
Ana Teresa Vicente, autarca de Palmela, sublinhou que “a Arrábida é palco de muitas tradições da população” e a inclusão, durante a preparação da candidatura, de valores culturais, “permitiu, por exemplo, acrescentar o castelo de Palmela” ao território abrangido na proposta.
O esforço das equipas municipais e da AMRS na preparação da candidatura foi também enaltecido pelos presidentes de câmara e da Associação de Municípios.
Numa imagem da dedicação e empenho das entidades na candidatura, Maria das Dores Meira recordou que Eduardo Rêgo, narrador da série “Vida Selvagem”, comentou recentemente que dos mais de três mil filmes que já narrou, o episódio “Arrábida – Da Serra ao Mar”, encomendado pela AMRS e transmitido na SIC, foi o primeiro totalmente feito em Portugal.

O percurso da candidatura
Os efeitos causados pelas pedreiras e Secil na Arrábida 

A ideia de se avançar com uma candidatura mista e não apenas de Património Natural foi anunciada a 18 de Setembro de 2009, quando foi assinado um protocolo de colaboração entre a Associação de Municípios da Região de Setúbal e o Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade, que visava preparar o processo a entregar à UNESCO(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Assim, além da fauna e da flora da Arrábida, em que se incluem algumas zonas de vegetação mediterrânica única, a mata coberta e a mata do solitário, a candidatura valoriza os aspectos imateriais, como as tradições, as festas religiosas, a presença humana e as actividades, da pesca à agricultura e à pastorícia, bem como trabalho com a pedra da Arrábida.
Doze anos depois da ideia lançada pelo então vereador social-democrata da Câmara de Setúbal, Duarte Machado, a candidatura, que abrange toda a área do Parque Natural da Arrábida, do cabo Espichel a Setúbal, está finalmente concluída. “É uma alegria muito grande. A Arrábida é uma jóia da natureza. Este símbolo – agora há que lhe dar continuidade–- é uma mais-valia para a atracção de visitantes nacionais e estrangeiros a esta zona, que é linda, paradisíaca”, disse Duarte Machado.

Secil pode dar lugar a um hotel
O antigo autarca do PSD acredita que um dia o proprietário da cimenteira do Outão poderá decidir-se pelo encerramento da pedreira e pelo aproveitamento turístico da zona de exploração. “Ali tinha condições excelentes para fazer um bom hotel, promover visitas às fábricas e conservar todo aquele paradigma do que tem sido a Secil”, disse Duarte Machado, lembrando que o empresário também tem vários negócios na área do turismo.
Mais preocupantes para o antigo autarca social-democrata são as pedreiras do outro lado da Arrábida, nomeadamente na zona da Azóia (Sesimbra). “É catastrófico o que se vê ali, aquelas crateras lunares”, disse. “Felizmente que a parte central do maciço natural da Arrábida está preservada”, acrescentou Duarte Machado, salientando a importância da presença humana na preservação da Arrábida, território que está a onze meses de poder vir a ser considerado Património Misto da Humanidade.
Caso a entrega da candidatura tivesse falhado a data de hoje, o processo só teria desenvolvimentos em 2018, uma vez que é quase certa a entrada de Portugal no Comité Internacional da Unesco, facto que inviabilizará a apresentação de candidaturas portuguesas até que o País deixe de estar representado naquela instância.

Agência de Notícias 

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