Impressões Digitais por Paulo Jorge Oliveira


Um santo Natal para todos...

Para a maioria dos portugueses, este é sem dúvida o Natal mais sombrio das últimas décadas. Com o Governo transformado numa espécie de Grinch – aquele antipático personagem do filme infantil que cometeu a proeza de roubar o Natal – pela sua política de austeridade pura e dura que nos esvazia os bolsos e as esperanças. Mas, porque é Natal, há que voltar a fazer renascer a esperança.


Há dias, num inquérito de televisão, dizia uma criatura que "este ano não há Natal para os adultos, só para as crianças", resumindo ao prazer do consumo uma data que, mesmo para os não crentes, é para comemorar e viver a compaixão, o interesse, o amor pelo próximo. Mas são os sinais destes tempos esquisitos em que o Natal se mede pelas vendas dos comerciantes e transacções do multibanco, em que o Menino Jesus é substituído pelo bacalhau e pelo peru, em que o Primeiro-ministro mata qualquer tipo de esperança e manda portugueses fazer as malas e trabalhar para o estrangeiro. Estas últimas são mesmo originalidades do País e recentes. Mas, se calhar, não estaríamos como estamos se, no passado, tivessem mandado emigrar os ‘Jotas’ dos Partidos, grande parte com percurso e experiência apenas na política e com licenciaturas tardias de universidades manhosas. Em troca, teria ficado cá muita gente qualificada que teve de ir-se embora porque aqui não era devidamente aproveitada.
É Natal, mas um Natal sem esperança para a maioria dos portugueses, como já não havia há dezenas de anos. Um Natal que faz lembrar outros tempos, em que o ditador de Santa Comba Dão elogiava as virtudes da malfadada pobreza em que se vivia; em que milhares de portugueses sem trabalho deixavam o país e a família, carregando às costas todas as desventuras de um povo dentro de uma mala de cartão.
Há de novo, nestes tempos que correm, o elogio da pobreza, o incentivo à emigração, o louvor da caridade, enquanto se acusa a maioria dos portugueses de todos os males do mundo: os salários que recebem são muito elevados para aquilo que produzem; o valor das reformas está acima do que descontaram; as indemnizações por despedimento são um roubo que destrói a economia; o subsídio de desemprego só alimenta ociosos ou que não pagam impostos suficientes para ter luxos como saúde e educação quase à borla. Só não é Natal como antigamente porque nos falta o burrinho e a vaquinha no presépio, adornos do nosso imaginário, que Sua Santidade nos roubou. Roubam-nos tudo, nem o burrinho e a vaquinha do presépio escaparam ao saque.
A propósito do Natal e de saques, os povos maias anunciaram, há muitas centenas de anos, o fim das nossas vidas para este Natal. Segundo a leitura dos entendidos, por alturas do solstício de Inverno, precisamente deste Inverno de 2012, quando a estrela Régulo entrasse no sexto sector do zodíaco tropical, onde está o signo de Virgem, o “mundo acabava”. Assim, sem mais nem menos. Não acabou porque os astros também se enganam. Para mal dos nossos pecados, não eram só os povos maias a ler nos astros o nosso futuro. Agora os nossos governantes também se guiam por estrelas e conjugações astrais.
No Natal do ano passado, quando apresentaram o Orçamento do Estado para este ano, prometeram a redenção em troca de pesados sacrifícios. Mas nada bateu certo: e o Gaspar continua à procura de uma qualquer estrela onde possa seguir.
Neste Natal do nosso descontentamento, [sem burrinho, nem vaquinha no presépio] façamos votos para que surja uma estrela que aponte ao País o rumo certo, restaurando o ânimo e a esperança. Não sabemos de onde virá essa estrela, mas para já não cremos que venha de Belém…
Neste Natal de contenção, o melhor presente que cada um pode dar a si próprio é uma dose generosa de livre-arbítrio. E não a deixar a ganhar pó ao longo de 2013. São estes os votos – e as esperanças – do ADN.
Festas felizes!



Paulo Jorge Oliveira
Director da ADN – Agência de Notícias 

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