Diáfano Portus Cale por Marta Tomé


  “Mulheres do Norte”

Suspeita ou não, a verdade é que as mulheres do norte fascinam-me e sem quererem, não sabem como eu as sei e como me servem de inspiração. Mulher do norte é desenrascada, não tem receio de sujar as unhas, chama as coisas pelo nome e não é de mandar recados.


A mulher do norte – quer, pode e manda- quando quer, faz por poder e tem garra para mandar! Mas afinal de onde vem toda esta força e esta padronização das mulheres do norte? Tudo terá começado no reinado de D.Duarte quando este implementou a lei em que todos os bens passassem de homem para homem. Foi por essa altura que as devotas a Nossa Senhora da Agonia de Viana do Castelo, se recordaram de usar e adquirir ouro como talismã sagrado de fecundidade, disfarçando desta forma o uso deste como sinal de riqueza. Mandava e ainda manda a tradição, que o ouro passe de mãe para filha, noras, netas, afilhadas e/ou sobrinhas. Desta forma, a riqueza circulou entre o seio feminino e bem debaixo do nariz do Rei. Só mais tarde e com a Revolução dos Cravos, a lei de ser o marido a administrar os bens do casal foi abolida do Código Civil.
Citando palavras de Miguel Esteves Cardoso, as mulheres do norte - são mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer – e a verdade, é que não poderia estar mais de acordo.
As mulheres do norte conhecem de perto palavras como lavoura; enxada; determinação; genuidade; sacrifício; hospitalidade. Podem não saber tudo acerca de tudo, mas sabem como ter tudo através de quase nada.


Marta Tomé
Lisboa 

Diáfano Portus Cale – Portugal Transparente – é um olhar sobre a sociedade portuguesa da autoria de Marta Tomé, à segunda-feira para o ADN

Comentários