Criticas Soltas por Joana T. Oliveira


A crise não atira bebés para o lixo

A notícia de mais um bebé encontrado numa lixeira, asfixiado dentro de um saco de plástico, como aconteceu em Guardizela, deixa um terrível nó na garganta. Há por aí algures uma mãe que deu à luz sozinha, e que em desespero matou a filha.


Uma mulher que disfarçou nove meses de gravidez, e que agora tenta continuar a sua vida como se nada se tivesse passado, assustada certamente pelas notícias dos jornais, dividida entre o desejo de ser apanhada, acreditando que o castigo pelo crime lhe atenuará a culpa, e a vontade de que ninguém descubra que a “assassina” de que falam no café que frequenta é ela.
Os defensores do aborto dirão que se trata de uma pobre que não teve acesso a um serviço hospitalar onde se podia ter desfeito do “problema”, ao que os advogados da Roda, recentemente reinstituída em países como a Alemanha, ripostarão que bastam caixas abertas no exterior onde o bebé pode ser deixado em segurança, sem que a mãe dê a cara.
Mas a solução para uma gravidez indesejada é muito mais do que tirar a criança rapidamente do caminho, e fingir que nada aconteceu. Essa é a resposta que nos convém, não à mãe, aquela que esconde a incapacidade que tivemos de cuidar e proteger as pessoas ao nosso lado, fingindo não perceber violências e abusos de que eram alvo, ou a desorientação em que viviam, aquela que mascara a intolerância cruel que manifestamos para com quem engravida sem o desejar ou não se sente capaz de ser mãe, ao ponto de a impedir de nos pedir ajuda. Cada uma destas mortes diz mais de nós, do que destas mulheres, e por favor a crise não é desculpa. Nem pode ser, nunca uma desculpa para tamanha barbaridade.


Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, por Joana Teófilo Oliveira para o ADN.

Comentários