Secil manda 56 pessoas para casa


“Empresa deveria ter sido mais justa para os trabalhadores”


O sindicato da Cerâmica do Sul acusa a Secil de querer reduzir a massa salarial dos trabalhadores da empresa ao substituir os 56 empregados despedidos na última semana por novos funcionários subempreiteiros contratados por metade do ordenado. Entre eles, um homem de Pinhal Novo que acusa a cimenteira de “má-fé” em todo o processo ao recusar dialogar com os trabalhadores. A Secil, para já, não comenta as acusações do sindicato mas justifica os despedimentos com a injustificável necessidade de redução da dimensão da estrutura e dos custos”. A reestruturação pode, no entanto, ir mais longe.

Trabalhadores dispensados da Secil para "diminuir custos" 

Pedro Jorge, coordenador do sindicato, acredita que “a redução da dimensão da estrutura e dos custos a que a empresa se refere não corresponde à realidade” sendo que o sindicato promete estar “atento às hipóteses de ilegalidade desta situação, por não estar convencido com os critérios que a cimenteira apresenta” e acrescenta que pretende “encontrar uma forma de evitar o despedimento coletivo”, disse aquele sindicalista ao site Setúbal na Rede. 
Pedro Jorge entende que “as decisões da empresa deveriam ter sido mais justas e vantajosas para os trabalhadores que fizeram da Secil aquilo que ela é hoje”. O coordenador do sindicato alerta para as condição de desemprego dos trabalhadores que, com idades entre os 40 e os 50 anos, são “demasiado jovens para o desemprego e demasiado velhos para voltarem a conseguir um novo posto de trabalho”. Após a reunião com a administração, “a empresa mantém-se intransigente e não apresenta alternativas ou medidas mais vantajosas para os trabalhadores”, alega o sindicalista.

Trabalhador acusa administração de “falta de diálogo”
De acordo com o sindicato, “não se registaram reduções do período normal de trabalho, nem salários em atraso e, de um dia para o outro, os funcionários vêm os seus postos de trabalho a serem postos em causa”. O dirigente sindical refere que os trabalhadores levantam questões sobre a decisão da Secil e não compreendem a forma como foi avançado o despedimento coletivo “depois de tantos anos de trabalho”.
Isto mesmo lembrou um funcionário da Secil do Outão ao ADN. “O mal-estar é enorme na empresa e entre os trabalhadores que eventualmente vão ser dispensados. A empresa nunca mostrou sinais de crise, o volume de trabalho é o mesmo apesar da quantidade de cimento produzida ser ligeiramente menor e, por isso, custa-nos muito a aceitar essa medida”, disse um trabalhador que não quis ser identificado.
A trabalhar no Outão há cerca de “15 anos”, o trabalhador residente no Pinhal Novo foi um dos dispensados pela empresa há uma semana. Sabe que ao ficar desempregado terá “poucas oportunidades de voltar a arranjar trabalho”. “Tenho 47 anos, novo para a reforma e velho para voltar ao mercado de trabalho”, lembra. Com “uma filha a acabar o secundário e outra que entrou agora na universidade” e a “mulher desempregada de longa duração [trabalhava numa fabrica de carnes na Quinta do Anjo]”, o ex-funcionário da Secil, teme “pelo futuro da família”. E acusa a empresa de “falta de desrespeitar as pessoas e, sobretudo, de não dialogar com os trabalhadores. Apresentou o despedimento como facto consumado quando, na verdade, dialogando poderia ter chegado a um acordo onde fosse possível a manutenção dos empregos”. Segundo disse ao ADN, “a empresa agiu de má-fé”.

Sindicato ameaça com tribunal
Com os trabalhadores em risco, “o sindicato está disposto a denunciar todas as injustiças e ilegalidades que a empresa cometer e avançará para tribunal com todos os trabalhadores que entenderem contestar as medidas da cimenteira”, adianta Pedro Jorge.
Os trabalhadores da Secil vão analisar as propostas apresentadas pela empresa e “encontrar uma forma de protesto contra esta situação”. O sindicato contesta o facto de os funcionários da fábrica do Outão terem sido “dispensados pela empresa e enviados para casa, impossibilitando-lhes de ter uma oportunidade de reagir, da mesma forma que os trabalhadores da empresa Cimentos Maceira e Pataias se manifestam à porta da empresa”.

Empresa justifica despedimentos  
Empresa emprega 700 pessoas. 56 vão embora 

Serão 56 os trabalhadores afectados pelo processo de despedimento colectivo que a empresa de cimentos vai levar a cabo, alguns dos quais na fábrica de Outão, em Setúbal, em Cibra-Pataias, no concelho de Alcobaça e Maceia, em Leiria.
A Secil, para já, não comenta as acusações do sindicato, mas de acordo com a Lusa, a “medida prende-se com a injustificável necessidade de redução da dimensão da estrutura e dos custos”, disse uma fonte da empresa.
A opção pelo despedimento colectivo é justificada por ser este o mecanismo legal que “garante o melhor enquadramento dos trabalhadores na situação de desemprego e assegura integralmente o cumprimento dos seus direitos”, disse a mesma fonte, apontado como objectivo da empresa a “viabilidade a longo prazo”.
A Secil atravessa actualmente momentos de aperto, em muito causados pela quebra no sector da construção civil e obras públicas. “O consumo nacional de cimento deverá atingir apenas 3,5 milhões de toneladas em 2012, menos de um terço do volume de 11,5 milhões de toneladas atingidos em 2002”, números que tendem a piorar, uma vez que “na actual conjuntura, espera-se ainda maior contração do mercado nos próximos anos”, aponta a fonte ouvida pela Lusa.


Programa alargado de corte de custos
A empresa de Pedro Queiroz Pereira tem, no entanto, outras medidas previstas para a atual crise do setor. "A Secil tem em curso vários projectos nos diversos segmentos, com particular incidência nos segmentos do cimento, betão-pronto e inertes, tendo em vista a redução significativa dos custos através da racionalização das operações e, também, do redimensionamento das áreas de suporte por forma a adequar convenientemente a empresa à nova realidade imposta pela retracção da procura interna", revela a administração da Semapa, ‘holding' que controla a Secil, no comunicado dos resultados do terceiro trimestre.
O mesmo documento acrescenta que a empresa "está a implementar um conjunto alargado de medidas de redução de custos por forma a adequar as operações em Portugal e a respectiva estrutura de apoio à nova realidade imposta pela redução drástica da procura", sublinhando que "uma parte dos efeitos dessas medidas deverá sentir-se já em 2012".
Oficialmente a empresa escusa-se a fornecer mais detalhes sobre este plano de cortes, mas o ADN sabe que, entre outras coisas, estão em curso – alem do despedimento coletivo – reduções de custos em áreas como a manutenção das unidades industriais, operações logísticas, contratos com as centrais de compras, partilha de ‘back office', soluções tecnológicas ou até racionalização de ocupação de instalações.



Paulo Jorge Oliveira 

Comentários