Portugal vai parar esta quarta-feira

Em "luta por um Portugal melhor" 

Os portugueses saem nesta quarta-feira à rua contra a austeridade num protesto que pretende ser “histórico” para toda a Europa. O dia é de greve geral, mas também de manifestações, ou melhor, manifestação, já que a Plataforma 15 de Outubro, os movimentos 12 de Março (M12M), Que se lixe a troika, Alternativa Socialista (MAS), Sem Emprego (MSE) e Cidadãos pela Dignidade (MCD) vão juntar-se à CGTP para, em uníssono, dizerem “basta de exploração e empobrecimento”. Diversos serviços serão muito reduzidos durante a greve geral desta quarta-feira, com a CP a ficar limitada a 10 por cento, o Metro de Lisboa a encerrar e a Carris a garantir apenas 50 por cento de 11 carreiras.


CGTP espera uma das maiores greves gerais de sempre

A CGTP deu, no início de Outubro, o primeiro passo para a convocação de uma greve geral e, mais tarde, anunciou um protesto em frente à Assembleia da República. O ponto de encontro dos manifestantes afectos à central sindical é no Rossio, às 14h30.
Porém, a luta dos cidadãos começa mais cedo em vários pontos de Lisboa. Pela primeira vez, os movimentos decidiram, em conjunto, promover uma acção de solidariedade com os estivadores. Plataforma 15 de Outubro, MAS, MCD, MSE e M12M vão encontrar-se no Cais do Sodré, às 13h00, para protestar contra o Governo e a troika.
Ana Rajado, do Movimento Sem Emprego (MSE), justifica o protesto conjunto “com a propaganda muito forte que tenta dividir os estivadores”. Na terça-feira, o MSE defendeu que o “Governo está a condenar pessoas à morte”, já que, por exemplo, “obriga idosos a optar entre remédios e comida”. Por isso, o MSE assumiu, em comunicado, a legitimidade dos cidadãos utilizarem a “desobediência civil como forma de resistência”.
Durante a noite, membros do MSE estarão junto dos piquetes de greve e desde a semana passada que foram colados cartazes a apelar à adesão ao protesto. A porta-voz do MSE disse que “foram colados mil cartazes do movimento, mas, entre todos os promotores, são cerca de 3500”.

“Uma motivação comum dos povos da Europa”
Por sua vez, o Movimento 12 de Março convocou os cidadãos através das redes sociais para um protesto que, segundo João Labrincha, é “muito importante”. Por isso, os membros vão erguer 12 cartazes com mensagens em várias línguas contra a austeridade. “Privatizam a água, nacionalizam a sede”, “Austeridade é crime contra humanidade” e “Eu passo-me, Coelho” são alguns dos exemplos das palavras de ordem do M12M. Por volta das 13h30, os manifestantes seguem para o Rossio.
Em solidariedade não com os estivadores mas com a jornada de luta europeia, os membros do Que se lixe a troika vão concentrar-se, às 14 horas, junto à embaixada de Espanha, no cruzamento entre a Avenida da Liberdade e a Rua do Salitre. João Camargo, do movimento, sublinhou que existe “uma motivação comum dos povos da Europa para combater a situação de crise”, que “não pode ser resolvida num só país”.

Lisboa, centro dos protestos
Ao longo do dia vários membros deste movimento vão estar com os piquetes da greve e a partir das 10h00 vai andar por Lisboa um piquete móvel a apelar à adesão à greve geral e à participação na manifestação. Às 14h30, os manifestantes juntam-se ao protesto da CGTP, no Rossio. A partir desta hora e deste local, o protesto passa a ser uniforme. Na Assembleia da República, os portugueses vão gritar a uma só voz que não querem mais austeridade.
A PSP confirmou que está previsto um reforço de policiamento, em particular nos locais com maior afluência de pessoas.
Lisboa é o centro dos protestos, mas a CGTP tem marcadas concentrações para todos os distritos do continente e também para os Açores e a Madeira. Portugal está hoje em greve geral, tal como Espanha, Grécia e Itália, mas um pouco por toda a Europa vão realizar-se acções de solidariedade, conferências e protestos.

CP só de serviço mínimo
O acórdão de serviços mínimos da CP limita a 10 por cento a operação da empresa, estando assegurados apenas 145 comboios dos quase 1500 que circulam num dia normal. Na rede urbana de Lisboa, haverá apenas 69 ligações. E, no Porto, 24 comboios. Estão previstas 40 ligações regionais e apenas duas de longo curso. Poderão circular mais comboios, mas tudo dependerá da adesão dos trabalhadores. José Manuel Oliveira, presidente Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, afirmou que com "os cortes que os trabalhadores irão sofrer por via da Lei do Orçamento de Estado de 2013", com "a alteração ao código do trabalho" e "os aumentos dos impostos previstos para o próximo ano" é natural que estejam disponíveis e com vontade para fazer parte da greve geral.

Autocarros, metro e barcos
O metro em Lisboa, que costuma contar com uma média diária de 500 mil validações de bilhetes, irá fechar, à semelhança do que ocorreu em greves passadas, já que não foram definidos serviços mínimos. No Porto, a circulação também ficará condicionada, estando garantido o serviço na linha amarela, entre o Hospital S. João e Santo Ovídio, e entre a Estação da Senhora da Hora e a Estação do Estádio do Dragão, no tronco comum às linhas azul, vermelha, verde, violeta e laranja. Já nos autocarros, os serviços mínimos da STCP, que opera a rede no Porto, reduziram a 10% a operação diurna e nocturna. Serão asseguradas as cinco ligações feitas de madrugada. Por Lisboa, a Carris operará a 50% 11 carreiras (703, 735, 736, 738, 742, 744, 751, 758, 759, 760 e 767). Nas ligações fluviais no Tejo, foram definidas 40 circulações obrigatórias.
Aviões também param
Nesta quarta-feira serão assegurados apenas três voos: Lisboa-Terceira, Lisboa-Ponta Delgada e Lisboa-Funchal, de acordo com os serviços mínimos definidos. Além disso, terão de ser asseguradas todas as ligações de emergência e militares. A TAP informou que cancelou 200 dos 350 voos programados. Sete sindicatos entregaram pré-avisos de greve, de pessoal do handling a tripulantes de cabine, contra a situação do sector e a privatização da ANA e da TAP. "Há a expectativa de que a grandeza da adesão à greve possa aumentar face ao passado. O contrário é que seria estranho", afirmou José Simão, do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos.
Serviços do Estado parados
Bettencourt Picanço, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (UGT), tem "boas expectativas" em relação à adesão à greve. Segurança Social e saúde são os sectores onde as expectativas são mais elevadas. Estas são as áreas, além da Educação, onde Luís Pesca, dirigente da Federação de Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (CGTP), espera maiores adesões. O encerramento de escolas é quase certo, assim como "perturbações graves" nos hospitais, centros de saúde e serviços de segurança social. A federação espera uma resposta significativa por parte dos trabalhadores das Misericórdias e IPSS.
Professores querem parar escolas 
Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), diz mesmo que prevê "o encerramento de milhares de instituições [de ensino] por todo o país", perante as "medidas duríssimas" impostas pelo Governo. Já na saúde, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, antevê que mais trabalhadores vão aderir a esta greve do que à paralisação de Março. José Carlos Martins acredita que haverá "serviços que potencialmente serão fechados", dependendo da sua importância e da adesão à greve.
O responsável referiu que os enfermeiros estão insatisfeitos com a pretensão do Ministério da Saúde de cortar 50% das horas de turnos e com a decisão de adiar a idade da reforma para os 65 anos. Várias repartições de finanças também deverão fechar, segundo as previsões de Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos. "Existirão serviços que irão encerrar", graças à insatisfação que se vive no sector, em parte justificada pela "ausência de um diploma de carreira", disse.

Portos: mais um dia de greve
Os trabalhadores dos portos portugueses têm decretados várias greves desde o início do ano, mas a partir de Setembro o ritmo tem sido mais constante. Esta quarta-feira não será excepção, com uma "adesão maciça, como já é hábito neste sector, perto dos 100%", referiu Vítor Dias, secretário-geral do Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal. O responsável afirmou que julga que "mesmo sem o pré-aviso, os portos iriam parar completamente".
Correios sem estações
Ao contrário do que tem acontecido em anteriores greves, o tribunal arbitral do CES decidiu que por se tratar de um único dia de greve não se justifica a abertura de uma estação de correio por município. Por isso mesmo, "as necessidades sociais impreteríveis" serão garantidas com a distribuição de telegramas, de vales postais da Segurança Social e de correspondência que "titule prestações por encargos familiares ou substitutivas de rendimentos de trabalho", desde que devidamente identificados, refere o acórdão. A recolha, tratamento, expedição e distribuição de correio e de encomendas com medicamentos ou produtos perecíveis também serão assegurados.
Comércio estará aberto
A tradição deverá cumprir-se no sector do comércio e serviços. O sindicato que representa estas actividades não espera uma elevada adesão à greve mas no contacto que tem feito com os trabalhadores, garante que há “maior predisposição” em aceitar a documentação distribuída pelas estruturas sindicais e maior vontade em aderir à segunda greve geral convocada pela CGTP este ano.
“Há maior predisposição mas também maior pressão sobre as pessoas. Há receio em perder o emprego e a questão salarial também pesa. São trabalhadores que ganham pouco mais do que o salário mínimo e um dia de greve é muito dinheiro”, disse Manuel Guerreiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP). Não haverá lojas encerradas mas há estabelecimentos que “já estão a trocar horários”. “Os que já se sabe que fazem greve estão a ser colocados de folga”, afirma.
No comércio tradicional o apelo à paralisação também é dirigido aos próprios comerciantes. “São tão ou mais atingidos do que os trabalhadores”, sublinha Manuel Guerreiro. Também a Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio Escritórios e Serviços considera que o sector sofre com um “aumento brutal de encerramentos, insolvências, despedimentos e desemprego”, com horários de trabalho “desregulados”, diminuição do pagamento em dias de feriado e do trabalho suplementar.

Agência de Notícias 

Comentários