Polícias saem à rua em luta contra o Orçamento de Estado


“Ou isto se altera ou os polícias vão continuar a protestar”

 “Vergonha”, “gatunos” e “demissão”. As palavras são habituais numa manifestação popular, mas ontem quem normalmente está na escadaria a proteger a Assembleia da República passou para o outro lado da vedação. Cinco mil polícias, segundo a organização, tiraram a farda e saíram à rua contra o Orçamento para 2013.

De acordo com a organização mais de cinco mil polícias saíram à rua 

Polícias fardados de um lado. E polícias à civil do outro. O cenário - a lembrar o célebre protesto dos ‘Secos e Molhados', em 1989, no Terreiro do Paço - decorreu, desta vez, sem incidentes, apesar de alguns ânimos mais exaltados. Ainda assim, na manifestação que reuniu polícias frente à Assembleia da República, houve quem gritasse ‘invasão, invasão' e as barreiras estiveram prestes a ser derrubadas. Mas, no fim, ainda houve direito a beijos entre colegas... separados por grades.
Célia Lopes, chefe no Comando de Oeiras, de 47 anos - 24 na PSP - foi a protagonista de um acto simbólico. "Ele foi meu colega de curso e este beijo foi apenas uma brincadeira. Eles estão do lado de lá, a fazer o trabalho deles, mas sabemos que em pensamento estão com todos nós", disse a chefe da polícia, de acordo com a edição online do Correio da Manhã. "Sabemos que é difícil para eles estarem daquele lado e, se não estivessem de serviço, acredito que estariam também a manifestar-se".

As razões do protesto
Para Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical de Polícias Profissionais (ASPP/PSP), o Governo quer implementar “medidas prejudiciais”, que “colocam em causa a condição sócio-profissional dos polícias e o funcionamento da instituição”. 
Paulo Rodrigues disse que “é importante lutar contra medidas que vão afectar a população e a segurança pública”. Neste sentido, os representantes do ASPP foram recebidos por um assessor da presidente da Assembleia da República, a quem entregaram um documento com propostas de alteração ao OE para 2013. O fim da utilização dos passes sociais, o congelamento das pré-aposentações e o aumento dos encargos na saúde são algumas medidas que a classe quer ver canceladas. 
No discurso aos manifestantes, Paulo Rodrigues deixou um aviso: “Ou isto se altera ou os polícias vão continuar a protestar”.  Vinte e três autocarros partiram de vários pontos do país em direcção a Lisboa. Um grupo de seis polícias veio dos Açores para denunciar que têm sido mais prejudicados do que os restantes colegas da classe. Luís Soares, coordenador regional da ASPP/PSP Açores, assegura que “há falta de efectivos e falta de motivação” dos profissionais da ilha. 

Cinco mil a protestar 
Polícia promete mais luta se nada for feito 

José Teixeira, com 35 anos de serviço, garante que “hoje é mais difícil ser polícia do que há três décadas”. Menos experiente, com 12 anos ao serviço da PSP, Luís Almeida sente que o Governo lhe “tirou o tapete”, pois “exige mais do que dá”. Em solidariedade com a classe, também alguns estivadores participaram na manifestação. Na escadaria da Assembleia da República, um grupo de polícias, em serviço, vigiou o protesto. Questionado sobre a impossibilidade desses profissionais se manifestarem, Paulo Rodrigues confessou: “Tenho a certeza que mais de 90 por cento dos polícias que ali estão preferiam estar deste lado”. 
As palavras de ordem de cinco mil polícias - número avançado por Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia - fizeram-se ouvir entre o Largo de Camões e São Bento. Vindos de todo o País - e contando com a solidariedade de outros sindicatos da PSP e até de outras forças de segurança. Os manifestantes estão contra algumas medidas previstas pelo Governo para o Orçamento de Estado de 2013.
Paulo Rodrigues entregou um documento com as reivindicações a todos os grupos parlamentares e, ao final de cerca de três horas e meia, os manifestantes desmobilizaram sem incidentes.

GNR “retirou-se” da manifestação
Perante a estagnação das promoções dos militares da GNR, que deveria ter ocorrido em 2010, a Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG/GNR) enviou nesta terça-feira um comunicado ao Ministério da Administração Interna, aos grupos parlamentares e aos partidos políticos, a pedir esclarecimentos sobre a situação. No documento, a ASPIG/GNR colocou em causa “as promessas e ‘boas’ intenções dos responsáveis pelas referidas promoções”. 
O presidente da ASPIG/GNR, José Dias Alho, disse que o objectivo era lançar um aviso ao Governo e perspectivar “um corte de relações” caso a situação não fosse resolvida, já que existia um “mal-estar de centenas de militares da GNR”. O aviso foi ouvido por Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, e Vítor Gaspar, ministro das Finanças, que assinaram nesta terça-feira um despacho a autorizar a promoção de 2767 militares da categoria profissional de guardas e 338 da categoria de sargentos. 
A ASPIG/GNR congratulou-se com a decisão do Governo e considerou já não “existir a necessidade de participar em manifestações”. 

Agência de Notícias 

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