Os maquinistas da CP e o conselheiro
Borges
As greves de trabalhadores da CP
provocaram em 2011 o cancelamento de quase 20 mil comboios e uma perda de
receitas a rondar os oito milhões de euros. Os números foram avançados no mesmo
dia em que os sindicatos encetaram uma nova "jornada de luta". Como?
Com mais um pacote de greves, é claro.
Não se
retire daqui um manifesto antigreve. Entenda-se, antes, uma resistência à
banalização desta forma de protesto consagrada na Constituição Portuguesa. Não
é necessário ser nenhum iluminado para perceber o quão danoso representa para
as contas da empresa, para os próprios trabalhadores e para os utentes a
utilização indiscriminada deste direito. Trata-se de um jogo singular com um
resultado conhecido ainda antes do início da partida. O resultado é que todos
perdem.
Foram esses
senhores que fizeram greve nas vésperas de Natal, Ano Novo e Carnaval a lutar
por uma coisa que deve ser exigida pelos tribunais. Em casa, esses senhores da
CP, ganham o mesmo ordenado por isso não trabalham.
O que
antes seria uma acção com o efeito devastador de uma bomba atómica transformou-se,
pela força da repetição no ano passado registaram-se 12 dias de greve total e
83 dias de parciais, numa bomba artesanal com tendência a rebentar nas mãos de
quem a prepara.
Sem discutir a justeza das pretensões dos trabalhadores, o
que se pede é uma reinvenção das formas de protesto, cimentadas numa base de
diálogo e sensatez.
Mas os
maquinistas da CP não são os únicos a fazer – a dizer – asneira da grossa. O
conselheiro Borges diz que não disse o que não terá passado pela cabeça de
ninguém que disse – que defende, em síntese – um país de gente pobre. Claro,
ninguém em seu perfeito juízo diz semelhante enormidade. O que o conselheiro
Borges já achou normal afirmar foi a emergência da redução de salários, não
prevendo as reacções fortíssimas que a insensibilidade do seu discurso
provocou. E, por variadas razões, tendo algumas das quais a ver com o seu
principesco ordenado e sinuoso curriculum. Veio tudo ao de cima numa nação que
está no osso, que não pode ouvir falar em mais cortes e austeridade em salários,
impostos e direitos sociais.
Um banco
não pode falir porque põe em causa o Sistema, e um país tem de começar a gerir
também a economia dos vizinhos, porque se eles caem, ele cai. É a necessidade
de maior "integração" a caminhar para o federalismo, com, obviamente,
o controlo da Alemanha, que tem a receita para todos, afinal, a mesma do
conselheiro Borges.
Joana Teófilo
Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Quinta do Anjo
O
homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as
pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é
estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor
que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que
não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é
sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou,
até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo,
enfim. À sexta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN.
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