Em Reportagem: Transportes em greve amanhã

Uma greve com muitos custos

Os trabalhadores das transportadoras cumprem nesta quinta-feira a primeira grande greve do sector em 2012, mas as perturbações começam já a sentir-se esta noite nos comboios, autocarros, barcos e metro. Ainda antes de a greve arrancar, o Governo antecipou-se a medir o impacto da paralisação na economia, alegando que deverá custar ao país 150 milhões de euros.

Metro estará de portas fechadas até sexta-feira 


No Parlamento, o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, apontou que as empresas de transportes públicos registaram prejuízos superiores a 30 milhões de euros com o conjunto de greves de 2011. E afirmou que a paralisação de quinta-feira terá um impacto de 150 milhões na economia nacional, embora sem explicar como chegou a estes números.
Os efeitos da greve começam a fazer-se sentir esta noite, quando estão já em vigor as novas tarifas nos transportes públicos (o terceiro aumento no espaço de um ano). É contra as medidas concretizadas ou anunciadas pelo Governo no quadro da reestruturação das empresas públicas que os sindicatos estão em protesto, do encerramento de serviços ao despedimentos que em alguns casos vai implicar.

Não há números para já

Os sindicatos não arriscam estimativas de adesão à greve. José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações, diz esperar um “máximo” de participação, tendo em conta as preocupações conjuntas do sector. Mas não concretiza números, reconhecendo, ao mesmo tempo, que as empresas se organizaram para diminuir o impacto da greve.
A CP só garante 294 comboios, em vez das 1469 ligações que se realizam num dia útil sem perturbações. Para cumprir os 20% de serviços mínimos decretados pelo Tribunal Arbitral, a transportadora vai realizar 12 comboios Intercidades (não circulará nenhum Alfa Pendular).
Nas linhas urbanas de Lisboa, as que transportam em média mais passageiros por dia (307.008), só estão garantidos 148 comboios, quando, num dia de circulação normal, a CP realiza 739 comboios.
No Porto, a empresa garante 60 comboios ao longo do dia, contra os 280 num dia sem perturbações. Nos comboios regionais, estão assegurados 72 percursos, contra os 376 feitos num dia normal.

Lisboa quase parada 
Amanhã as estações estarão sem vida


Em Lisboa, a paralisação no metro é também de 24 horas. Sem serviços mínimos garantidos, as estações deverão encerrar por motivos de segurança, estando previsto que a circulação só seja retomada na sexta-feira.
A Carris, que assegura o transporte de autocarros na capital, só está obrigada a efectuar metade do serviço em 13 carreiras: 12, 36, 703, 708, 735, 738, 742, 751, 755, 758, 760, 767 e 790. É o equivalente aos 13% de serviços mínimos estabelecidos pela entidade de arbitragem do Conselho Económico e Social.
O Metropolitano de Lisboa anunciou hoje que terá a circulação suspensa entre as 23h30 de quarta-feira e a 1h de sexta-feira devido à greve dos trabalhadores agendada para quinta-feira.
Devido à greve, "prevê-se a paralisação do serviço de transportes do Metro entre as 23h30 de dia 1 de fevereiro (quarta-feira) e a 1h de dia 3 de fevereiro (sexta-feira)", informa a empresa em comunicado, adiantando que o serviço será normalizado a partir das 6h30 de sexta-feira.
Vários sindicatos que representam os trabalhadores do Metro apresentaram pré-avisos de greve para quinta-feira, no âmbito de uma paralisação no setor dos transportes convocada para esse dia.
As ligações fluviais no rio Tejo, asseguradas pela Transtejo e a Soflusa, vão ter menos 139 barcos do que num dia normal. A paralisação dura três horas por turno por cada trabalhador.

Greve não mudará nada diz o Ministro
Greve não muda opinião do Ministro em relação ao transporte 


A greve desta quinta-feira das empresas de transportes é um "direito que assiste" aos trabalhadores, mas não altera a inevitável reestruturação do setor, disse hoje o ministro da Economia e Obras Públicas, Álvaro santos Pereira.
"O direito à greve é um direito que assiste aos trabalhadores, mas temos de perceber que não há volta a dar em relação à reestruturação do setor do transportes", afirmou oo ministro, à margem de um encontro hoje em Lisboa do setor do turismo.
Ainda sobre a reestruturação das empresas de transportes públicos, cuja dívida corresponde a 10 por cento do Produto Interno Bruto nacional, o ministro acrescentou: "Tudo [a reestruturação] será feito, e auscultando os representantes dos trabalhadores. A reestruturação é para ir para a frente porque não há alternativa".
A greve deverá afetar, pelo menos, mais de 340 mil passageiros da Carris e da Transtejo/Soflusa, segundo dados fornecidos pelas empresas à Lusa.
No caso da Carris, a empresa que assegura o transporte rodoviário em Lisboa estima que a greve de 24 horas dos trabalhadores afete cerca de 300 mil passageiros.
Questionada sobre o impacto financeiros da greve, fonte oficial da empresa escusou-se a avançar um valor, referindo que a greve terá uma "impacto negativo adicional" tendo em conta a "situação de grande fragilidade económica e financeira" em que se encontram as empresas públicas de transportes.

Paulo Jorge Oliveira 

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