Em Reportagem: Mercado do Livramento tenta voltar à normalidade

Livramento, um dia depois da tragédia

A tragédia foi ontem à tarde. A parede sul – “a mais bonita do mercado” – caiu quando sofria obras de restauro e tirou a vida a cinco homens. Esta manhã, como sempre, às 7h30 era a hora de abertura e apesar de a presidente da autarquia, Maria das Dores Meira, ter referido que as portas estariam trancadas até a segurança ser total, os agricultores do concelho de Palmela e Setúbal, como sempre, acordaram às quatro da madrugada e meteram-se a caminho para o seu posto de venda. O presidente da Associação de Comerciantes do Mercado quer que os vendedores voltem já no fim de semana e, da empresa que cumpria a obra, diz hoje que todos os “procedimentos de segurança” foram cumpridos.

 Parede de azulejos, ao fundo, foi a que ruiu ontem à tarde


Vieram do Lau, das Lagameças e de Cajados, tudo localidades do concelho de Palmela, e montaram as bancas num canto improvisado perto da Avenida Luisa Todi, entre as traseiras do Tribunal de Setúbal e o parqueamento do Pingo Doce.
E agora esperam “a solidariedade e a compreensão” dos fiscais municipais. “A venda é o nosso único sustento. Nós vivemos só disto. Muitas de nós trabalharam sempre no campo, não descontámos, nem reformas temos”, queixa-se uma das vendedoras de 65 anos que está no Livramento vai para 20 anos.
A “ocupa” da banca do lado lá vai dizendo que souberam da notícia “era já de noite”. “Já tinhamos os carros carregados”, explica. “No campo as pessoas trabalham e não têm acesso a  internet nem a nenhuma televisão. Só mesmo à noitinha”, diz.
 Ao lado, uma senhora justifica a vinda com o facto dos frescos “se estragarem depressa”. “Temos de vender ou dar, caso contrário estraga-se tudo, das alfaces às cenouras”, aponta. E prometem voltar sempre que poderem. E só esperam que “arranjem isto depressa porque é a nossa casa”.

Vendedores querem regressar sábado

Parede sul desabou ontem às 17 horas 


O presidente da Associação de Comerciantes do Mercado do Livramento afirmou hoje acreditar que o mercado reabrirá as suas portas no próximo fim de semana.
"Não acredito que vá demorar muitos dias. Tanto os peritos, como os engenheiros, como todas as entidades envolvidas nisto estão a trabalhar arduamente para que reabra o mais depressa possível. Eu acredito que este fim de semana já estaremos lá", disse Henrique João.
A presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, disse ontem, como o ADN noticiou, que as paredes laterais do mercado do Livramento correm o risco de caírem, salientando, contudo, que a "parte já requalificada do edifício não está em perigo".
No entanto, o representante dos comerciantes não receia novas derrocadas. "Aquilo que a presidente da câmara queria dizer - e estava de tal maneira emocionada e stressada - era que a parede lateral, que é aquela que está em risco, e estamos a falar de dois ou três metros, fazia a ligação com a parede que caiu", explicou.
O comerciante realçou que a parte que caiu era a que estava a ser remodelada e que tudo o resto já "é betão novo". "Aquilo que se estava a fazer lá atrás já se tinha feito cá dentro e não caiu nada. Já se tinha feito noutras partes do mercado e não aconteceu nada", sublinhou o representante dos vendedores.
Henrique João disse ainda que "a parte onde houve a derrocada é mínima em relação ao mercado, porque toda a estrutura do mercado já é nova". Segundo o responsável, o mercado do Livramento tem actualmente entre 300 a 350 comerciantes. "É muita gente, é muita família, fora os empregos indiretos", diz o responsável.


O peixe irá ficar nas arcas congeladoras  


Peixe ficará nas arcas congeladoras 


No peixe a situação piora. Os donos de restaurantes em Setúbal e Palmela vão directamente à lota comprar o peixe para grelhar para o almoço dos clientes. As bancadas de peixe no mercado estão situadas junto à parede que ruiu. Ana Cancela, peixeira há vinte anos no Livramento, adiantou numa reportagem do jornal Público que “nos próximos dias não há alternativa senão esperar”. Enquanto isso, as arcas congeladoras enchem-se de peixe.
Os comerciantes estão sem instalações provisórias para operar. O grande armazém que serviu para esse fim, enquanto duraram as obras no interior do mercado, foi demolido e foi nesse preciso local, agora uma vala para a construção das fundações da extensão do edifício, que ocorreu o trágico desabamento de ontem à tarde. A vala está protegida por um perímetro de segurança, vigiada em permanência pela PSP.
Os únicos mercados municipais onde os setubalenses se puderam deslocar foram o mercado 2 de Abril, na rua Padre José Maria Nunes da Silva, e o mercado de Nossa Senhora da Conceição, na rua Fernando Garcia. O mercado do Livramento continuará fechado até que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil dê um parecer positivo sobre a segurança do edifício e haja a certeza de que as paredes laterais se aguentam em pé e não voltam a tirar mais nenhuma vida.

Empresa diz que cumpriu todos os “procedimentos de segurança”

Empresa garante que obra estava segura 


A empresa responsável pela obra no Mercado Municipal do Livramento, em Setúbal, garantiu hoje ter cumprido todos “os procedimentos de segurança e normativos legais aplicáveis para garantir o bom decurso” da empreitada.
Em comunicado, a empresa lamenta a morte de cinco trabalhadores e informa que estão a decorrer peritagens no local da ocorrência com vista ao apur
amento das causas do acidente. “A administração da Alexandre Barbosa Borges lamenta profundamente a ocorrência e deixa aqui expressos os mais sentidos pêsames a todos aqueles que perderam familiares e amigos em virtude desta ocorrência”, lê-se no comunicado enviado à Agência Lusa.
A administração da Alexandre Barbosa Borges decl
arou ainda que está a aguardar “serenamente” o resultado das peritagens que se encontram a decorrer no local com vista ao apuramento das causas do acidente.
De acordo com os responsáveis da empresa, o pl
ano de emergência foi activado “em conformidade com as entidades externas de socorro” e foram “avisadas as autoridades que acorreram de imediato ao local”, acrescenta a nota de imprensa.


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