Carnaval de Pinhal Novo - Reportagem

A festa da criatividade volta hoje à rua

Mesmo sem cortejo carnavalesco e a folia de outros tempos, devido à contenção orçamental, [e este ano não chegou nenhum dinheiro das entidades autárquicas] Pinhal Novo não deixou de comemorar o Carnaval. É assim há 18 anos. E, como dizia um folião com roupa de palhaço rico, “esperamos que nunca acabe porque este é o Carnaval do povo, é das gentes e não há tolerância ou intolerância de ponto que roube isso”. Foi assim no domingo e será assim hoje a partir das três da tarde.

O samba também a marcar presença no Pinhal Novo 

O Carnaval são dias de transgressão, dias (e noites também) malandros de euforia. Na tradição cristã, o Entrudo traduz-se nos três dias que antecedem a Quaresma. E, por cá, todas as devoções são possíveis. Virgílio Ferreira, escritor português, escreveu um dia “que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram pode estar errada. No Carnaval, desmascaram-se”.
A tradição perdura na vila mais populosa do concelho de Palmela e, ao longo de quase duas décadas, ganha adeptos de todas as gerações: durante os dias do entrudo "eles" vestem-se de "elas", as "femme fatales", ou como diz o povo, as matrafonas do Carnaval. Meninos ou homens de barba rija despem-se de preconceitos e não se poupam a esforços e a dinheiro para encontrar a melhor indumentária para se divertirem durante os dias do Carnaval de Pinhal Novo, onde "a vida são dois dias e o Carnaval são cinco", lá diz o povo.
Havia princesas pequenas e grandes pelas ruas. Até havia um príncipe de Cavalo Branco, uma prostituta vulgar e outra mais “da jet 8”. Bonecos e super heróis, muitos palhaços e, pelo menos, um árbitro. “Todos os anos tento inovar. Este ano deu-me essa pancada e ando por aqui a distribuir cartões vermelhos à dona Austeridade e à coelhada que anda por aqui”. E mais não disse.

As vestes do Carnaval...
Não faltou ideias ao Carnaval com aroma a caramelo 

Carla, que no ano passado apanhei-a vestida com uma lingerie a matar e um vestido rachado até às coxas estava este ano com... um vestido vermelho rasgado e uma coisa qualquer parecida a uma lingerie. “Épá este ano não há dinheiro para fatiotas e tive de improvisar com a roupa que uma amiga já não usa”. Este ano, diz Afonso travestido de Carla, “não houve ‘guita’ para as perucas, os collants, as cuecas fio dental, as malas, as pulseiras e os colares. Mas para o ano, está prometido, vou assaltar um chinês”.
O Carnaval caramelo é assim: uma festa imensamente popular. Sem muito dinheiro – leia-se sem nenhum dinheiro – nem muitos recursos, o Carnaval dos Amigos de Baco não teve nem luxos mas já teve duas mulheres, quase, despidas a fazer crer que estamos noutra cultura. No Pinhal Novo houve reis e rainhas do movimento associativo da terra. Não houve escolas de samba mas houve os bombos e as pandeiretas dos bombeiros. E houve criatividade. De resto... a sátira social e as incursões à vida política nacional também não poderiam faltar, provocando a boa disposição aos que, num dia de sol, não hesitaram em sair de casa para ver o cortejo pinhalnovense animar e colorir as ruas da vila.

Fani, a matrafona guia

O desfile volta a sair esta tarde pelas ruas de Pinhal Novo

A abrir o cortejo a Fani, a matrafona, que este ano desfilou sozinha pelas ruas em trajes (quase) íntimos. É Carnaval e ninguém leva a mal e, por isso, a fanfarra dos Bombeiros já vinham na frente como se fossem palhaços pobres e ricos. As danças de Salão do Rancho Folclórico da vila.
Muita música animada, muita gente contente atrás do primeiro carro do corso: o carro da Fitness WorX. Muita dança e muita alegria e muita sensualidade vestida de vermelho e preto e... outras sensualidades que, mais a cima, mostravam o corpo enquanto cantavam “ai se eu te pego”. E claro... “ai meninas que eu vos pego nem sabe o que lhe fazia”, gritava um homem vestido de urso de mão dada a duas meninas de pijama e chucha na boca. Os bombeiros do raço e o Znem lá vinham quase no fim da viagem da loucura.
Uma menina – das verdadeiras – vestida de enfermeira atrevida dava o mote para os dias seguintes. “Contra os Passos, as troikas e as câmaras falidas é certo uma coisa: terça-feira cá estaremos de novo a brincar ao Carnaval e não há tolerâncias de ponto que me impeça de brincar”.




Paulo Jorge Oliveira 

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